Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016)
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Moonlight

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“Todo crioulo é uma estrela” (“Every nigger is a Star”). Essas são as primeiras palavras que se ouvem em Moonlight. A frase é, na realidade, o verso da música homônima de Boris Gardiner, artista negro, que ironicamente usa o termo pejorativo para inflar a autoestima da própria comunidade. Mas engana-se “de verde-amarelo” aquele que pensar que se trata, aqui, de um filme de gueto – embora a produção seja, sim, um importante instrumento de voz para os afrodescendentes.

Moonlight - PosterEscrito e dirigido por Barry Jenkins (do pouco conhecido Medicine for Melancholy), a partir de uma ideia de uma peça, o filme é o que, em cinema, se chama de um verdadeiro estudo de personagem. Apelidado de “Little” (pequeno), o tímido Chiron (Alex Hibbert, de um olhar acuado de cortar o coração) mora numa comunidade pobre da Miami da explosão do crack dos anos 1980 e, desde novo, sofre com os colegas de escola que o tacham de bicha (“faggie”) – embora nem ele mesmo, aos dez anos, saiba o que isso quer dizer (não é que o garoto dance Donna Summer no intervalo do recreio, o que, mesmo assim, não justificaria a atitude da turma).

Quando chega na adolescência (quem assume é Ashton Sanders, numa performance mais exagerada, menos sutil), a introspecção aumenta na mesma proporção do bullying. Somam-se mais dez anos a essa história e vemos Chiron como “Black” (aqui entra o ex-atleta Trevante Rhodes, ótimo em sua estreia no cinema), já líder do tráfico local. O que não muda, ao longo das três fases em que o filme divide a vida do personagem, é a busca por autoconhecimento – algo universal, inerente à vida de qualquer um, independente da cor da pele ou de com quem você se deita.

As questões de raça e preferência sexual, no entanto, ganham contornos ao mesmo tempo simples e complexos quando transpostas para um universo essencialmente masculino. Essa é a grande sacada da obra. Se há ainda um resquício de estereotipagem na mãe solteira sobrecarregada de trabalho que usa a droga como escape (e há) – um excelente trabalho de Naomie Harris, a Tia Dalma da franquia Piratas do Caribe –, o mesmo não se pode dizer do personagem de Mahershala Ali. O intérprete do Boggs de Jogos Vorazes vive uma espécie de figura-paterna para o jovem Chiron, alguém que, apesar do trabalho “fora da lei”, mostra que pode, sim, ser uma presença responsável e atenciosa.

Sem um padrão, a câmera é fluida (destaque para o rodopio em torno de Mahershala logo na sequência de abertura) e, quando sossega, reluta em pousar em um enquadramento óbvio (e sempre bem iluminado). O mesmo se pode – e deve – dizer da trilha que, variando da música clássica a Caetano Veloso (sim!), também recusa a trivialidade.

Reduzir Moonlight a um filme de nicho é cometer um erro tão grave quanto o fizeram os bullies que rotularam Chiron. Não falta nuance, não falta franqueza emocional, não falta solidão. Falta, talvez, uma catarse para tamanho sofrimento reprimido.
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