4K
Assistir Clash (2016) online
Clash
- Ano de produção: 2016
- Nacionalidade: França, Egito
- Duração: 1h37min
- Áudio: Português
- Страна: США
- Com: Nelly Karim, Hani Adel
- Dirigido por: Mohamed Diab
- Gênero: Drama / Suspense
Assistir Clash (2016) online Dublado
Desde a primeira imagem, a câmera do diretor Mohamed Diab encontra-se dentro de um grande camburão da polícia egípcia. Dois jornalistas são acusados de fazerem parte da Irmandade Muçulmana, grupo que assumiu a presidência até sofrer o golpe dos militares. Enquanto rebatem as acusações, os membros da imprensa são jogados no interior do veículo. Ao longo de um único dia, marcado por protestos nas ruas da cidade, o espaço fechado acolhe as mais diversas pessoas quando os policiais detêm protestantes pró-exército, pró-Irmandade Muçulmana e outros passantes sem posição ideológica definida.
Clash - FotoClash possui a ambição de representar o tenso ambiente nas ruas do Cairo após a destituição do presidente eleito Mohamed Morsi. Ao invés de ampliar o escopo das imagens para apreender o máximo de temas possível, o cineasta transforma a limitação de espaço e de personagens em motor narrativo. Metonimicamente, Diab representa o país inteiro no cubículo, incluindo homens e mulheres; crianças, adultos e idosos; de diversas classes sociais e pontos de vista políticos. O excelente roteiro dá conta de apresentar a contento uns quinze personagens, fornecendo motivos verossímeis para que eles se encontrem simultaneamente naquele local. Nenhuma figura é incluída apenas pelo imperativo da representatividade: a narrativa torna cada personagem indispensável ao desenrolar da trama.
O roteiro propõe um debate político repleto de nuances, impedindo que os indiciados sejam reduzidos à caricatura de suas funções. Entre os manifestantes pró-exército, existem pontos de vista distintos, assim como os membros da Irmandade Muçulmana discordam entre si sobre as medidas a tomar naquele momento. O cineasta evita defender um lado específico, enquanto permite a todos expressarem suas opiniões. Ao mesmo tempo, o filme investe numa crônica de absurdos, com direito a uma bem-vinda dose de humor. Dentro do camburão, as pessoas observam as bombas e perguntam: “São os nossos manifestantes? São os deles?”. De longe, no meio do caos, é impossível saber. Vistos pelas janelas quadriculadas, todos os egípcios parecem iguais. Esta seria uma possível leitura do discurso, simbolizada por um jogo de xadrez nas paredes do veículo.
Clash - FotoEm conjunção com o nível excepcional do debate, Diab utiliza recursos estéticos igualmente impressionantes. Mesmo em espaço limitado, com mais de dez pessoas ao redor, o filme extrai um dinamismo exemplar de enquadramentos e montagem. A direção de fotografia magistral de Ahmer Gabr consegue evitar o caos das brigas ao organizar as imagens pela seleção da profundidade de campo: enquanto umas pessoas gritam ao fundo, desfocadas, outra conversa se desenvolve em primeiro plano, em foco. A iluminação possui um refinamento típico das grandes produções, com destaque para as belíssimas cenas noturnas, quando a luz das armas e lanternas entra no veículo e ajuda a delinear os rostos. Mesmo com evidente cuidado estético, o projeto mantém o tom de urgência e a aparência semidocumental.
Além de todas essas qualidades, Clash consegue superar um dos maiores problemas do huis clos, a narrativa com vários personagens num espaço fechado, juntos o tempo inteiro. Trata-se da questão do “enquanto isso”: é normal que o roteiro e a direção se foquem em pequenos grupos de duas ou três pessoas por vez, mas o que os outros, logo ao lado, estariam fazendo enquanto a ação se concentra nos demais? Filmes como Os Oito Odiados e 8 Mulheres apresentavam dificuldade nesse quesito, sem conseguir explicar porque a maioria dos personagens ficaria calado e imóvel quando a câmera não se focava neles. Já a ficção egípcia toma cuidado para o espectador saiba o tempo todo o que cada personagem está fazendo e, caso algum grupo esteja silencioso, existe uma razão plausível para isso. A mise en scène é tão precisa em termos de tempo, espaço, luz, direção de atores e representatividade que Clash se torna uma experiência impactante para os sentidos e desafiadora para o intelecto.
Clash - FotoClash possui a ambição de representar o tenso ambiente nas ruas do Cairo após a destituição do presidente eleito Mohamed Morsi. Ao invés de ampliar o escopo das imagens para apreender o máximo de temas possível, o cineasta transforma a limitação de espaço e de personagens em motor narrativo. Metonimicamente, Diab representa o país inteiro no cubículo, incluindo homens e mulheres; crianças, adultos e idosos; de diversas classes sociais e pontos de vista políticos. O excelente roteiro dá conta de apresentar a contento uns quinze personagens, fornecendo motivos verossímeis para que eles se encontrem simultaneamente naquele local. Nenhuma figura é incluída apenas pelo imperativo da representatividade: a narrativa torna cada personagem indispensável ao desenrolar da trama.
O roteiro propõe um debate político repleto de nuances, impedindo que os indiciados sejam reduzidos à caricatura de suas funções. Entre os manifestantes pró-exército, existem pontos de vista distintos, assim como os membros da Irmandade Muçulmana discordam entre si sobre as medidas a tomar naquele momento. O cineasta evita defender um lado específico, enquanto permite a todos expressarem suas opiniões. Ao mesmo tempo, o filme investe numa crônica de absurdos, com direito a uma bem-vinda dose de humor. Dentro do camburão, as pessoas observam as bombas e perguntam: “São os nossos manifestantes? São os deles?”. De longe, no meio do caos, é impossível saber. Vistos pelas janelas quadriculadas, todos os egípcios parecem iguais. Esta seria uma possível leitura do discurso, simbolizada por um jogo de xadrez nas paredes do veículo.
Clash - FotoEm conjunção com o nível excepcional do debate, Diab utiliza recursos estéticos igualmente impressionantes. Mesmo em espaço limitado, com mais de dez pessoas ao redor, o filme extrai um dinamismo exemplar de enquadramentos e montagem. A direção de fotografia magistral de Ahmer Gabr consegue evitar o caos das brigas ao organizar as imagens pela seleção da profundidade de campo: enquanto umas pessoas gritam ao fundo, desfocadas, outra conversa se desenvolve em primeiro plano, em foco. A iluminação possui um refinamento típico das grandes produções, com destaque para as belíssimas cenas noturnas, quando a luz das armas e lanternas entra no veículo e ajuda a delinear os rostos. Mesmo com evidente cuidado estético, o projeto mantém o tom de urgência e a aparência semidocumental.
Além de todas essas qualidades, Clash consegue superar um dos maiores problemas do huis clos, a narrativa com vários personagens num espaço fechado, juntos o tempo inteiro. Trata-se da questão do “enquanto isso”: é normal que o roteiro e a direção se foquem em pequenos grupos de duas ou três pessoas por vez, mas o que os outros, logo ao lado, estariam fazendo enquanto a ação se concentra nos demais? Filmes como Os Oito Odiados e 8 Mulheres apresentavam dificuldade nesse quesito, sem conseguir explicar porque a maioria dos personagens ficaria calado e imóvel quando a câmera não se focava neles. Já a ficção egípcia toma cuidado para o espectador saiba o tempo todo o que cada personagem está fazendo e, caso algum grupo esteja silencioso, existe uma razão plausível para isso. A mise en scène é tão precisa em termos de tempo, espaço, luz, direção de atores e representatividade que Clash se torna uma experiência impactante para os sentidos e desafiadora para o intelecto.
ASSISTIR FILME
TRAILER