Fala Comigo (2016)
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Fala Comigo

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Nos últimos anos, o cinema brasileiro (ou parte dele) tem voltado seus olhos para dilemas existenciais e sociológicos envolvendo a classe média, sob os mais diversos aspectos. É o caso de Casa Grande, Que Horas Ela Volta?, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, O Som ao Redor e tantos outros, cada um com seu enfoque mas sempre abrangendo o mesmo universo de personagens. Fala Comigo também integra este rol, só que investindo mais no lado romântico - ou melhor, nos tabus da sociedade em torno de um relacionamento entre uma mulher mais velha e um jovem de 17 anos.

Fala Comigo - FotoDiante desta proposta, é interessante notar como o início do longa-metragem flerta muito mais com o fetiche do que com qualquer sentimento mais profundo. O hábito do jovem Diogo em ligar para as pacientes de sua mãe e, sem nada dizer, se masturbar ao ouvi-las falar qualquer coisa é uma típica molecagem adolescente impulsionada pelos hormônios em ebulição. Por outro lado, é também graças a este ato invasivo que ele, acidentalmente, fica a par do estado depressivo de Ângela, devido a uma recente separação. Por mais que tal trecho seja breve, e muito impulsionado pela sensação do proibido, ele é fundamental para o que está por vir. É como se o diretor e roteirista Felipe Sholl estabelecesse as bases de um relacionamento inusitado em outra situação inusitada, de forma a deixar bem claro que as regras impostas pela sociedade, aqui, não estão em vigor.

Psicologicamente, é até fácil compreender o jogo de desejos envolvendo Diogo e Ângela - mas, no fim das contas, não é este o maior atrativo de Fala Comigo. O brilho intenso está no elenco e também nos diálogos, de uma espontaneidade impressionante que consegue captar tanto a empolgação juvenil diante da primeira relação amorosa quanto a serenidade balzaquiana de quem apenas quer ser feliz, seja como for. Se Tom Karabachian traz uma jovialidade contagiante, encarando de igual para igual suas colegas de elenco, cabe a Karine Teles o difícil trabalho de transitar entre emoções extremas, da depressão à paixão, muitas vezes demonstrando um brilho no olhar que tão bem reflete o estado de espírito de sua personagem. É o que acontece na belíssima sequência em que ele canta uma música de sua autoria e ela, com a câmera focada em si, simplesmente resplandece diante do íntimo reconhecimento do que é dito. Simples, impactante e emocionante.

Fala Comigo - FotoEntretanto, como em toda história de amor, há as pessoas à volta - e é através delas que as pressões da sociedade vêm à tona. Clarice, psicóloga de Ângela e mãe de Tom, é a antagonista maior, explorando com habilidade o tom de comédia dramática tão bem dominado por Denise Fraga, como já demonstrado em filmes como As Melhores Coisas do Mundo e De Onde Eu Te Vejo. Os amigos de colégio de Diogo trazem outra vertente, também adolescente e até mesmo com uma pitada de ciúmes, passando pela experimentação típica da idade. Todo este mix é apresentado de forma bastante naturalista, ampliando os limites do ninho de amor de forma a testá-lo e também ressaltar os pontos de vista de cada personagem, sem necessariamente julgá-los. O silêncio é também um forte aliado que, somado à ausência de trilha sonora, potencializa o impacto emocional de certas situações e diálogos.

Com muita câmera na mão e uma fotografia que busca retratar o tesão sem jamais resvalar para a nudez, Fala Comigo é um filme sobre amar e aproveitar as oportunidades que a vida subitamente proporciona. Com um ótimo elenco em mãos, especialmente o trio formado por Karine Teles, Tom Karabichian e Denise Fraga, trata-se de um filme jovem de temática aberta muito bem executado dentro do que se propõe a ser. Em certos momentos talvez até soe ingênuo, mas toda história de amor não é de certa forma ingênua?
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