É Apenas o Fim do Mundo  (2016)
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Juste La Fin Du Monde

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Chega a ser difícil acreditar que, aos 27 anos, Xavier Dolan já tenha no currículo seis longa-metragens, todos exibidos em grandes festivais e, em alguns deles, premiado. Este menino prodígio canadense ainda consegue dividir sua atenção com as tarefas de ator, produtor, editor e figurinista, fora o trabalho de selecionar as canções da trilha sonora. É claro que tamanha precocidade também resulta em falhas, decorrentes não apenas de sua pouca idade mas também de uma visão de mundo bastante particular e próxima das gerações mais novas, que cresceram com a internet. Entretanto, fato é que, desde Mommy, Dolan tem demonstrado maturidade como cineasta. Se ainda investe firme em personagens por vezes histéricos, envolvendo enormes problemas familiares que refletem ecos de si mesmo, chama a atenção a forma como conceitua e implementa questões narrativas bastante interessantes. É o que, mais uma vez, acontece em Juste La Fin Du Monde.

Juste La Fin Du Monde - FotoBaseado na peça teatral homônima escrita por Jean-Luc Lagarce, o longa-metragem nada mais é do que um imenso barraco em uma família francesa que tem início quando um homem de 34 anos, o escritor Louis (Gaspard Ulliel, correto), decide visitar a família para comunicar que está prestes a morrer. Detalhe: ele não vai visitá-los há 12 anos, ou seja, há um mundo de mágoas enclausuradas não apenas nele, mas nos demais familiares.

Para Dolan, seria muito fácil fazer o típico teatro filmado: reúne os atores em um mesmo cenário, permite que eles interajam entre si e pronto, é só deixar a força do texto falar mais alto. Algo parecido com Deus da Carnificina, dirigido por Roman Polanski, apenas para servir como exemplo de uma boa adaptação do teatro para o cinema que não exige muito de seu diretor. Só que Dolan ousa ao criar uma narrativa própria, filmando individualmente cada personagem em closes bastante fechados. É como se apenas ele existisse na tela, ao mesmo tempo em que possui a consciência de que não está só. Para não prejudicar a dinâmica do próprio texto, é adotada uma edição ágil em que cada close é substituído rapidamente, de forma que o espectador tenha a percepção de convívio em um mesmo ambiente e, mais ainda, das reações de certos personagens em decorrência dos comentários feitos. É como se a câmera estivesse em todos, por mais que no fundo foque uma única pessoa.

Juste La Fin Du Monde - FotoAlgo do tipo dá trabalho, não apenas conceitualmente mas na própria filmagem, pela necessidade de gravar a mesma cena diversas vezes de forma que a câmera, a cada instante, possa capturar uma reação distinta. É justamente nesta dinâmica apresentada, fugindo do óbvio, que Juste la Fin du Monde brilha. Até porque o texto em si é apenas correto, explorando ecos do passado para ressaltar esta imensa briga em família onde há desafetos e alianças escancaradas. Também por isso, não há muito espaço para que qualquer dos atores se destaque. Seus personagens são tão unidimensionais, destinados a cumprir um perfil pré-estabelecido, que resta pouco a ser criado. Vincent Cassel cumpre bem o papel do personagem briguento, Marion Cotillard transmite insegurança através do olhar, Léa Seydoux surge sob pesada maquiagem, mas é só. Pouco para o que atores deste quilate podem produzir.

Outro ponto a destacar em Juste la Fin du Monde é sua trilha sonora, mais uma vez repleta de sucessos pop - marca registrada da carreira de Dolan. A curiosidade é a presença da romena "Dragonstea Din Tei", versão original da brasileira "Festa no Apê", de Latino, em meio a canções de blink 182, Moby e Camille. Nem sempre a música escolhida flui naturalmente dentro do filme, por vezes soando um tanto quanto histérica - a abertura é um destes casos -, mas esta é também uma característica do cinema feito pelo diretor. Dolan, nem sempre, consegue tornar o lado histriônico de personagens e situações como algo positivo para o filme como um todo.

Por mais que seu texto não traga algo propriamente novo, sendo basicamente a repetição de discussões do tipo já vistas em outros filmes/peças, Juste la Fin du Monde apresenta um raro frescor na forma como foi conceituado, entregando uma dinâmica bastante interessante para um formato tão batido. É também mais uma demonstração do amadurecimento de Dolan que, se ainda se repete em temas familiares, consegue ir além ao oferecer ao espectador algo diferente do habitual. Bom filme.
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