Souvenir (2015)
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Souvenir

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Liliane Cheverny (Isabelle Huppert) leva uma vida entediante como funcionária de uma fábrica de tortas salgadas. Ela passa os dias decorando os pratos da mesma maneira, até sair da empresa no mesmo horário, pegar o mesmo ônibus e passar as noites sozinha, em frente à televisão. Ela não tem amigos, namorado, ou familiares. Mas Liliane guarda um segredo: trinta anos atrás, ela foi uma das promessas da música francesa, ficando em segundo lugar num concurso europeu de música pop. Com a derrota na competição, abandonou a carreira, se separou do marido-empresário e embarcou na vida de anonimato.

Souvenir - FotoO diretor belga Bavo Defurne faz questão de mostrar que este não é um drama comum, mas algo próximo do conto de fadas. As imagens estão um grau acima do realismo: o retrato das atividades na fábrica é construído através da repetição de enquadramentos idênticos, assim como as noites solitárias em casa. Não conhecemos outros elementos que poderiam humanizar a personagem (seus gostos, aspirações, atividades extras), apenas o presente apático e o passado de glória. A protagonista está próxima da Cinderela: ela é uma mulher especial e talentosa, presa numa rotina que não lhe pertence.

Mas logo aparece o príncipe encantado, no caso, um rapaz muito mais jovem que Liliane. O boxeador Jean Leloup (Kevin Azaïs) ocupa um cargo temporário na fábrica e descobre o passado musical da colega. Ele é um “belo garoto / dos braços de aço / do coração doce”, como canta o hit que pretende trazer a personagem ao estrelato. Estamos no território dos sonhos: ao se deparar com a nova possibilidade de sucesso, ela se deixa levar pelos holofotes e abre mão das pessoas que foram importantes nesse processo, apenas para aprender a conter sua ganância e fazer as pazes com a humildade. Como toda fábula, existe uma moral clara na conclusão.

Souvenir - FotoSouvenir traz um embate entre o futuro e o passado, abordando os limites éticos da busca pela fama. Seu questionamento não é particularmente aprofundado, sendo desenvolvido através de diálogos redundantes e cenas tão edulcoradas que descolam o espectador da realidade. Defurne busca homenagear produções românticas dos anos 1950-60, como Nasce uma Estrela e Funny Girl, mas se esquece de atualizar a linguagem cinematográfica para os nossos tempos. Ele constrói um filme sedutor, adornado pela previsibilidade típica das histórias de amor ditadas pelo destino. Mas o resultado soa deslocado nos tempos de hoje, quando a fama adquiriu contornos muito diferentes de décadas atrás.

Para quem busca um novo filme com Isabelle Huppert, vale dizer que a atriz está competente como sempre, embora seja uma escolha curiosa para esse papel. A veterana costuma ser associada a papéis de mulheres fortes, seja no registro perverso de Elle e A Professora de Piano, seja no estilo solar de O Que Está Por Vir e Villa Amalia. Aqui, ela faz uma mulher passiva, apagada, cujos rumos são determinados pelos homens ao redor. Quem brilha é o promissor Kévin Azaïs (Amor à Primeira Briga), com um personagem mais complexo em sua fascinação pela mulher mais velha, mãe simbólica e ídolo de uma época que não viveu. Entretanto, não espere um mergulho na psicologia destes personagens sonhadores e fracassados. O diretor prefere o retrato cor-de-rosa da ascensão às imagens amargas da queda.
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